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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Dengue, acabou ou ainda tem mais?

    Acabou não. Ela continua acontecendo, mas quase não se fala mais. Mesmo assim, vislumbra-se algum prelúdio no meio do caos. Outro bom exemplo de que o PSF veio para ficar.

PSF implantado reduz dengue e outras doenças

Notícia publicada em 08/05/08

 

O Ministro da Saúde reconheceu que não há surto de dengue nas cidades onde o PSF existe (Programa de Saúde da Família), e realiza trabalho de atenção primária à saúde e preventiva. E os números comprovam:  Niterói, por exemplo, tem cerca de mil casos de dengue contra quase 40 mil na cidade do Rio, no mesmo período. Niterói tem ampla cobertura do PSF, enquanto que a população carioca assistida pelo programa é cerca de 5%. O Presidente da Associação de Médicos de Família e Comunidade do Estado do Rio de Janeiro informou que no município do Rio há apenas 147 equipes de PSF para uma população de 6 milhões de habitantes.

No Rio, onde há PSF realizando a Atenção Primária à Saúde, o trabalho de educação da população e prevenção de doenças (várias) é permanente e rotina. O que é feito pelas equipes de Saúde da Família na favela Nova Brasília (Complexo do Alemão) deveria ser copiado em toda a cidade: O médico de família Oscarino Barreto relata como é a educação e prevenção: "ambos continuam sendo feitos através das visitas domiciliares de todos os profissionais (médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, dentistas, agentes comunitários); também há ações educativas em salas de espera, grupos e reuniões com a comunidade. Há ainda o fornecimento de tampas de caixa d'água, retirada de lixo, limpeza de terrenos e outras atividades do gênero. É bom citar que estas ações de educação e prevenção já faziam parte das atividades cotidianas das nossas equipes.   E ainda assim estamos enfrentando uma situação bastante drástica. Acredito que, dentre outros vários fatores, o fato de termos aqui no Rio uma quantidade consideravelmente elevada de  comunidades com grandes aglomerações sem infra-estrutura adequadas, seja um dos principais motivos de estarmos cada vez mais expostos a surtos/epidemias desta natureza". Lá, ele conta, uma jarra com soro é distribuída em copos plásticos ainda na sala de consulta, mesmo que o tempo de espera seja de no máximo 15 minutos.  Ele explica que ensinam à população que "hidratação não é apenas água" e que o repelente é essencial para todos e em especial para a pessoa infectada não passar o vírus para o mosquito que pode picar outra pessoa. Lá, o paciente tem acesso ao médico que o examinou no mesmo dia e algumas horas após realizar o exame de sangue.

Segue abaixo, relatos de experiências de médicos de família em todo o Brasil durante crises semelhantes à que o Rio passa , inclusive no posto do PSF do Rio.

Em Vitória, capital do Espírito Santo, o médico de família Marcello Dalla contou como organizaram o trabalho e resolveram o surto em 2003. Ele conclui: "É importante ter uma equipe de referência para definição dos casos após a investigação. Nesse sentido já em 2003 projetaram que a dengue atingiria com mais gravidade as crianças. Não basta resolver o problema imediato, mas pensar nos próximos 5 anos": "Passamos por uma situação semelhante em Vitória em 2003 e o que resolveu não tem muito mistério:  treinamento da rede básica para definição precoce de casos graves, intensificação das notificações (isso ajuda a chamar atenção para o problema), definição de leitos para casos graves com pessoal qualificado para isso,  e uma infectologista deu conta do recado (Vitória tem perto de 380 mil habitantes e a grande Vitória chega a mais de 1 milhão). Não dá para esquecer de dar treinamento para profissionais da rede privada. É importante ter uma equipe de referência para definição dos casos após a investigação. Nesse sentido já em 2003 projetaram que a dengue atingiria com mais gravidade as crianças. Não basta resolver o problema imediato mas pensar nos próximos 5 anos".

Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul , onde a cobertura em PSF é de 23% da população, aproximadamente, a Dra. Yvone  contou que a organização do PSF foi tão vitoriosa, que hoje é modelo e recebem visitas inclusive de representantes de vários países: "passamos por isto tudo no ano passado, mas graças a rede  toda estar capacitada conseguimos passar com apenas dois óbitos,mesmo assim um era de fora e outro tinha patologias  de base como diabete. Nossa intervenção foi eficaz,todos se mobilizaram , desde os agentes comunitários, profissionais, população, até o apoio de outros órgãos (exercito,por ex). A Atenção Básica em nosso município é modelo,temos recebido visitas de representantes de outros países (que o MS aponta para visitas)como Honduras, Panamá, e Nicarágua".

A médica Fabiana Prado, de Uberlândia, Minas Gerais, relatou o surto em 2005 e conta que "desde então, nunca mais paramos de trabalhar a dengue com a comunidade, partindo do suposto de não haver mais época definida de risco durante o ano, mas o ano todo. A redução do número de casos nos próximos anos foi a conseqüência":  "Aqui em Uberaba, MG, passamos tb por uma terrível epidemia em 2005, inclusive com casos de óbito por dengue hemorrágica. Durante o este período crítico foram muitos encontros para capacitação dos profissionais do sistema público. Um protocolo do MS foi adaptado à nossa realidade. A enfermagem, mesmo aquela que não fazia parte da ESF, cuidava do acolhimento, com designações e autonomia específicas. Assim tentamos organizar o fluxos dos suspeitos, no nível primário, que estivessem em bom estado e sem sinais de gravidade, como por exemplo o retorno para acompanhamento do caso e para tentarmos detectar as complicações precocemente.

Também foi organizado um fluxo para os serviços de pronto atendimento para casos que necessitassem de observação mais prolongada, assim como um fluxo para a realização de exames para aqueles pacientes que estavam bem mas que houvesse a necessidade de exames, como hemograma ( nas nossas unidades básicas não realizamos coletas de material para exame ). As unidades básicas trabalhavam em esquema de plantão, organizadas estrategicamente pelo município. Também foi organizada a cobertura por hospital de média e de alta complexidade. Isso foi o mais complicado, pois sempre esbarrávamos na falta, ou insuficiência de leitos. Outra dificuldade que senti foram recursos de maior complexidade, de imediato, para os pacientes com dengue clássica que evoluíam com sinais de alerta.

Mas parece que o melhor mesmo, foram os mutirões em finais de semana na comunidade que as ESFs (Equipes de Saúde da Família) fizeram em parceria com o pessoal da ZOONOSE. Na nossa unidade aproveitamos estes momentos para trabalhar a promoção, promover a ação (retirando o lixo que os moradores separavam) e ainda conseguimos que os médicos e enfermeiros das equipes e outros que atendiam na unidade em função de apoio ficassem como de plantão para atendimento das pessoas como sintomas da doença (fizemos um relato dessa experiência que foi exposto no nosso último congresso em São Paulo).

Desde então, nunca mais paramos de trabalhar a dengue com a comunidade, partindo do suposto de não haver mais época definida de risco durante o ano, mas o ano todo. "A redução do número de casos nos próximos anos foi a conseqüência".

Em Belo Horizonte, onde a cobertura do PSF é de 70%, a capital mineira tem se mantido fora, nos últimos anos, de qualquer surto epidêmico, de dengue ou de outras doenças infecciosas. A médica Maria Teresa Rabelo conta que :"o trabalho contra a dengue tem sido constante, pela Zoonose e Atenção Primária em geral.  Os treinamentos promovidos pela Prefeitura para os profissionais de saúde são freqüentes. Um facilitador foi a inclusão do "Prontuário da Dengue" no prontuário eletrônico, inclusive com alertas e orientações sobre o fluxo, agilizando o registro dos dados e a notificação.

Aqui mesmo, na cidade do Rio, onde o PSF existe, pode ser comprovada a rapidez no atendimento e o efeito de um trabalho preventivo (contra dengue e outras doenças) que vem sendo executado há muito tempo. O trabalho dos médicos de família da Unidade de Saúde da Família  em Nova Brasília, que faz parte do Complexo do Alemão é tão bem organizado e eficiente que eles atendem inclusive a população fora da área delimitada.  Aqui, o Dr. Oscarino Barreto relatou a rotina: "os pacientes são avaliados por nós médicos e traçamos uma conduta de acordo com o quadro clínico; a amostra de sangue é coletada pelas enfermeiras até às 12:30hs mais ou menos; passa um funcionário com uma viatura que leva essas amostras ao laboratório para serem realizados os exames; o mesmo traz os resultados à partir das 15:00hs (horário que orientamos aos pacientes para retornarem); re-examinamos esse paciente com o exame laboratorial do dia e redirecionamos a conduta se necessário. Normalmente orientamos aos pacientes para retornarem diariamente e temos conseguido dar alta à maioria desses após o terceiro/quarto exame. Já tivemos pacientes com plaquetas de 7.000 e 18.000 por exemplo que foram encaminhados para internação sem nenhuma manifestação hemorrágica espontânea e/ou provocada.

O Dr. Hamilton Lima Wagner de Curitiba, Paraná, relata que embora a sua cidade seja bem diferente do Rio, a lógica da organização de saúde no município resolveu os problemas principais:

Algumas diferenças básicas:nosso sistema de saúde é baseado na APS, temos 125 Unidades de Saúde cobrindo a cidade (1.700.000 hab) e mais 10 Centros Municipais para atendimento de Urgência e Emergência com capacidade para hospital dia adultos e pediatria, exames em tempo real. A Secretaria Municipal de Saúde funciona na lógica da Vigilância em Saúde – em que busca ativa e acompanhamento de casos é a regra. Em 1997 iniciamos o controle de Aedes em Curitiba, e apesar do clima estar muito mais quente e úmido nos últimos anos, temos mantido o controle do vetor, com população abaixo de ½ por cento do total de mosquitos na região. Além disto a cidade dispõe de 3 pronto socorros para atendimento a trauma e cirurgias de emergência – distribuídos de acordo com a logística da SMS. Por alto, esse é o nosso sistema, e obviamente tem uma realidade bem diferente do Rio. Por exemplo todos os profissionais são estatutários, com vínculo direto com prefeitura, sem intermediários, temos Plano de Carreira Cargos e Salários, e apesar de acharmos que o salário é baixo – ele é bem acima da média nacional.

http://www.sbmfc.org.br/comunicacao/noticias/1b637cbb-d0b2-4c6d-8d67-4964eb1a1e30.aspx.

    
 

Confira mais notícias sobre dengue.

Rio registra mais 10 mil casos de dengue em uma semana.

http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noticias.asp?codigo=220847&modulo=964

Casos de dengue aumentam 40% em Minas.

http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_2/2008/04/12/em_noticia_interna,id_sessao=2&id_noticia=58685/em_noticia_interna.shtml.

Ceará admite epidemia de dengue hemorrágica.

http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/2008/04/15/ult4477u528.jhtm.

Em Recife, população resiste ao combate à dengue.

http://jc.uol.com.br/jornal/2008/05/20/not_282651.php.

Odorico Monteiro admite epidemia de dengue.

http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/788249.html.

Terceira idade no combate à dengue.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=537073.

Ceará passa dos 19 mil casos de dengue.

http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noticias.asp?codigo=221027&modulo=178.

Armazenar água agrava situação no CE.

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=541056.

AL realiza debate sobre vacina contra a dengue desenvolvida pela Uece.

http://ocorreiodonorte.com.br/index.php?mod=article&cat=Coluna%20Saúde&article=147.

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