Antes de começar a teclar minha opinião sobre a matéria publicada na revista Veja à (des)respeito de Sobral (http://veja.abril.com.br/300909/the-united-states-of-sobral-p-144.shtml), há quase um mês, gostaria de fazer, digamos que um prólogo retrospectivo e comparativo. Eu explico: a polêmica sobre aquela matéria me fez recordar que Sobral já havia sido mencionada, embora de maneira tímida, pela Veja, em 1998.
Lembro-me que, há 11 anos, meu pai era assinante da Veja, ou melhor, ele pagava uma assinatura no meu nome, pois, como eu estava finalizando o ensino médio e estava para prestar vestibular, ele achava que eu devia ler bastante. De fato, embora a Veja não seja um bom exemplo em formação de opinião, aquilo me ajudou muito e sou grato ao meu querido velho por tudo.
Pois bem, em março de 1998, chegou às minhas mãos uma edição cuja matéria da capa versava sobre o desenvolvimento de cidades do interior e a migração de pessoas das capitais para cidades menores em busca de qualidade de vida. Lembrei-me que aquela matéria falava sobre Sobral, mas, por incrível que pareça, não falava sobre Juazeiro do Norte. Então, fiz uma pesquisa nos arquivos da revista na rede e veja o que encontrei:
http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx?edicao=1537&pg=05.
http://veja.abril.com.br/110398/sumario.html
Desde então, eu já sentia um pouco de vontade de virar adepto do arcadismo e fugir do ambiente de concreto em que eu vivia. Só não imaginava que seria tão bom viver no interior como eu vivo hoje. Para quem não sabe, arcadismo era uma corrente de pensamento literária do final do século XVIII que pregava o escapismo das cidades para a vida no campo. Sua máxima era carpe diem (aproveite o dia), e Tomás Antônio Gonzaga, que participou da Inconfidência Mineira (http://conscienciaacademica.blogspot.com/2009/04/48-edicao-de-2009.html), foi um dos principais nomes da corrente no Brasil.
Voltando ao foco, acredito que a tendência ainda seja essa, de as pessoas de bom senso deixarem as grandes cidades supersaturadas e partirem em busca de novas oportunidades em locais menos badalados. O eixo RJ-SP só está bom para quem é do meio artístico. Então, em busca de uma vida nova, deixemos para trás as metrópoles e vamos para Passárgada, porque dela "ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer um que ama e comete a mentira." (Apocalipse 22:15).
Agora, eu gostaria de fazer umas explanações sobre a situação atual de nossa cidade, comparando e atualizando as informações fornecidas pela revista, em 1998:
- A população saltou de 138000 para quase 200000, incluindo os habitantes dos distritos.
- Um apartamento de 3 quartos em bairro nobre saltou de 50000 para pelo menos 200000. Os aluguéis não são baratos. Uma casa com quatro quartos, sendo um de empregada, apenas uma vaga na garagem, em alguns bairros, pode sair por 700 reais.
- A Grendene continua por aqui, como um dos maiores empregadores da cidade, juntamente com a fábrica de cimentos Poty, que é mais antiga.
- A cidade já era universitária, em 1998, quando contava com apenas uma universidade. Minha mãe se formou lá, na década de 70. Agora, Sobral conta com quatro instituições de ensino superior e atrai jovens de todo o Estado. A expansão do ensino superior começou em 1999, quando a Universidade Federal do Ceará (UFC) abriu uma sucursal de sua faculdade de direito, sediada em Fortaleza. Alguns anos depois, esse curso avançado foi transferido para a universidade local, a Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UEVA), chamada antigamente de UVA. Em 2001, a Faculdade de Medicina da UFC, da qual tenho a honra de fazer parte, também abriu uma sucursal aqui, e em 2006, a UFC abriu novos cursos e instalou oficialmente um campus na cidade, que ainda está sendo construído. Desconheço as qualidades dos ensinos fundamental e médio em Sobral na época, mas hoje a cidade conta com boas escolas particulares, dentre elas destacam-se duas, que apresentam boa competitividade em relação às escolas particulares de Fortaleza. Uma dessas escolas é filial de uma rede de escolas da capital.
- Não sei se havia supermercado aqui, na época. Hoje, são quatro redes de supermercados atuando na cidade, sendo duas locais e duas da capital.
- Aquela matéria fala de "um shopping center em construção". Até hoje, ele não saiu do papel. Temos, no máximo, alguns pequenos centros comerciais abertos. A cidade já dispõe de um cinema, com quatro salas, dentro de um supermercado.
- A cidade ainda não conta com um sistema de transporte coletivo organizado e adequado para os tamanhos da população e do perímetro urbano. Existe apenas uma linha de ônibus, com cobertura limitada. Os carros precisam navegar por um mar de motocicletas e de bicicletas. Quem não tem meio de transporte próprio, se vale dos mototáxis, uma invenção genuinamente cearense, dos táxis e dos transportes alternativos em vans ou em microônibus, que no Ceará são chamados de topiques e em São Paulo são chamados de peruas. Para quem vai aos distritos da zona rural ou aos outros municípios da região, estão disponíveis ônibus velhos, topiques e até os velhos "paus-de-arara", que chegam e partem de praças e do mercado. Também é possível viajar para alguns daqueles lugares, pagando um pouco a mais e com um pouco de conforto a mais, nos ônibus de linhas regulares que embarcam e desembarcam exclusivamente na rodoviária, ao custo de R$ 1,00 pela taxa de embarque. O transporte ferroviário, outrora fonte de grandes emoções, assim como em quase todo o país, aqui também se encontra no ostracismo. A antiga estação ferroviária, que, há alguns anos, serviu de rodoviária provisória, quando a rodoviária municipal foi reformada, está fechada. Existe a promessa de revitalização ferroviária com a construção de um metrô de superfície, ligando alguns bairros entre si. Esse metrô está previsto para ficar pronto antes do metrô de Fortaleza, o Metrofor, cujas obras começaram há mais de dez anos. Já existe uma polêmica em torno da necessidade questionável do projeto. Saiba mais em http://www.ceara.gov.br/noticias/licitacao-de-projeto-e-supervisao-do-metro-de, http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/pge-marca-data-para-lancar-edital-do-metro-de-sobral/, http://talesbenigno.blogspot.com/2009/07/metro-de-sobral.html e http://opovo.uol.com.br/cidades/907925.html.
- Nosso aeroporto ainda é um pequeno campo de pouso com pouco mais de um quilômetro de pista, onde só pousam e decolam "teco-tecos", bimotores, ultra-leves e, às vezes, algum jatinho. Ainda não fomos incluídos nas rotas das grandes companhias aéreas.
Entretanto, fala-se em construir aeroportos em Aracati (http://blogs.diariodonordeste.com.br/egidio/turismo/reiniciadas-obras-do-aeroporto-de-aracati/) e até perto de Jericoacoara. Este último está causando grande polêmica, gerando disputa acirrada entre duas cidades vizinhas, como se pode ver em http://escutaaereafortaleza.blogspot.com/2009/01/aeroporto-de-jericoacoara.html, http://opovo.uol.com.br/opovo/ceara/879640.html e http://blogs.diariodonordeste.com.br/egidio/meio-ambiente/aeroporto-de-jericoacoara-a-19-km-da-praia/. Sobre isso, comentei em alguns sítios o seguinte:
Esse aeroporto deveria ser construído mesmo era em Sobral, que é a cidade mais desenvolvida e pólo da Zona Norte, que precisa de um aeroporto e que fica relativamente próxima à Jericoacoara. Outra, deviam abrir logo de uma vez uma rodovia de vergonha para que Jericoacoara não fique mais tão isolada. Penso nas pessoas que estiverem lá e precisarem de atendimento médico de urgência e emergência avançado. Como elas seriam transferidas para Sobral, ou mesmo para Fortaleza, sem estrada para as ambulâncias passarem??? "Abrir estrada causa impacto ambiental". Impacto ambiental??!! Que exemplo maior de impacto ambiental que a Transamazônica, além de um grande desperdício de verbas públicas???
- O custo de vida aqui não é tão baixo, mas o ganho em qualidade de vida e em salário, especialmente para algumas áreas, como a medicina, compensam. Por isso muitos médicos de outros Estados, e até de outros países, vêm morar e trabalhar aqui. Eu já avistei por aqui algumas caras conhecidas do passado, que devem ter se mudado para cá. Infelizmente, a cidade não é mais tão tranqüila como costumava ser. Os crescimentos desordenados da população e do tamanho da cidade geraram exclusão social, assim como em outros lugares. Este foi o preço do progresso (http://blogdocrato.blogspot.com/2009/10/sequelas-do-crescimento.html). Entretanto, o nível de violência aqui não se compara ao de Fortaleza. Por isso eu gosto tanto daqui e me sinto mais à vontade do que em Fortaleza.
- Já contamos com quatro hospitais, todos privados, mas três deles prestam serviços avançados ao SUS. Existe a promessa de um hospital a ser erguido pelo governo estadual, até o final de 2010. Comentarei sobre isto em outra ocasião.
- A vida noturna deixa a desejar. Ela se resume a alguns bares, restaurantes e, esporadicamente, alguns shows de forró e festas de aniversário de 15 anos. Havia uma boate que fechou, há cerca de dois anos.
- Há uma emissora da Jovem Pan FM na cidade, que detém grande audiência entre o público jovem, especialmente nas academias. Existe um projeto para instalação à curto prazo de uma emissora de TV na cidade. Já deveria ter ido ao ar este ano. Dizem que Sobral é um buraco onde as ondas eletromagnéticas fazem a curva e que isto teria facilitado o trabalho da equipe de Einstein em comprovar a Teoria da Relatividade aqui. Seria um jeito pejorativo de dizer que os sinais de rádio e de televisão não tem boa penetração, nesta área geográfica, requerendo equipamentos especiais, como antenas parabólicas para melhor captação. Não sei como era a situação, em termos de telecomunicações, por aqui, há onze anos, mas posso assegurar que aqui ninguém fica isolado do resto do mundo. A cidade é coberta pelas quatro maiores operadoras de telefones celulares do país, pelas maiores operadoras de TV por assinatura e já está disponível acesso à Internet 3G. Sobre as emissoras de rádio, não apenas de Sobral, mas do mundo em geral, gostaria de fazer uma postagem à parte.
- Sobre nossa rede hoteleira, não posso falar muito, devido à minha inexperiência. Quando eu vim aqui prestar vestibular, fiquei hospedado em hotéis mais simples, limpos, tranqüilos e satisfatórios. Os visitantes mais exigentes costumam dirigir-se a um hotel na Serra da Meruoca, há quinze ou vinte minutos de viagem a partir do centro.
- Por fim, considero indispensável falar sobre nosso maior calcanhar de Aquiles, motivo de chacota por parte dos que vivem em Fortaleza: nosso clima. Aqui, na maior parte do ano, especialmente de setembro à dezembro, o popular período dos "b-r-o-brós", faz calor quase todos os dias, o dia inteiro. A temperatura na sombra pode chegar à 38 graus. Apenas à noite alivia um pouco, mas continua quente. Engraçado é que já não sinto mais tanto calor quanto eu sentia, nas primeiras vezes em que estive aqui. Talvez eu já esteja aclimatado. Consigo até viver sem ar condicionado, coisa que não possuo em casa.
*****
Um comentário:
Caro Ynot.
A veja e a imprensa do Sudeste, tem uma visão elitista e preconceituosa dos nordestinos.
Há tempos não me dou o desprazer de folhear esta revista.
O motivo da imprensa do " Sul", focar a ascensão de Ciro à presidência.( Apesar de não morrer de amores por Ciro) a candidatura do sobralense, ameaça a de Serra, o "vampiro brasileiro", royaltes para José Simão. Serra enche a "famiglia" Civita e outras gananciosas, com recursos públicos.
Quem não Lê a Veja não perde absolutamente nada!
E comclamo a todos os nordestinos de bem, que não assinem e nem compre esta revista.
Postar um comentário