BlogBlogs.Com.Br
Seja bem-vindo ao blog Consciência Acadêmica.

Impressões pessoais sobre notícias ou sobre episódios cotidianos, além de informações de utilidade pública.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Postagem de 01122009





Como hoje é Dia Mundial de combate a AIDS, trago algumas discussões relevantes e preocupantes sobre o assunto.
Eu não sei se você soube que, em Fortaleza, um garoto de apenas quatro anos teria sido infectado com o HIV em um hospital pediátrico, provavelmente após duas transfusões de sangue (http://www.viatiangua.com/noticias/49-saude/158-mp-investiga-contaminacao-do-hiv-em-menino-de-4-anos.html). A reportagem diz que não é a primeira vez que um dos pequenos pacientes daquele hospital é infectado com o HIV, depois de receber hemotransfusão. Outro caso teria ocorrido há quatro anos.
Olha, sem querer pôr mais lenha na fogueira e manchar mais ainda a imagem de um tradicional hospital-escola infantil de referência mantido pelo governo estadual, mas um fato que eu pude constatar pessoalmente, quando estive lá, há quase um ano, é que não há muita preocupação com biossegurança, não necessariamente por culpa da instituição. Aconteceu que, em janeiro deste ano, estava eu estagiando em um hospital de referência em infectologia, na capital cearense, quando me incumbiram de conduzir um paciente HIV-positivo, hemofílico e bacilífero positivo, ou seja, com exames de escarro para tuberculose pulmonar positivos. Pois bem, para aquele paciente, havia a suspeita de uma afecção cerebral, provavelmente causada pelo seu imunocomprometimento. Para confirmar a hipótese diagnóstica de neurotoxoplasmose, seria necessária uma tomografia computadorizada do crânio. Agora você acredita que um hospital de referência em infectologia que tem muitas intercorrências neurológicas não tem um aparelho de tomografia computadorizada ou de ressonância magnética??? Então eu tive que conduzir o rapaz em uma ambulância ao hospital pediátrico em questão para fazer o tal exame da cabeça. Chegando lá, transportei-o em uma cadeira de rodas, passando por vários corredores repletos de pessoas, principalmente de crianças, até chegarmos à sala de tomografias. Estávamos praticamente distribuindo bacilos de Kock em aerossóis a granel. Eu estava protegido, porque estava de máscara e havia tomado a vacina BCG. Aquele hospital pediátrico devia ter uma estrutura melhor para receber pacientes de fora, encurtando o caminho até a sala de exames, ou talvez se recusar a receber pacientes naquela situação, mesmo que fosse apenas para realizar exames, porque ele tanto podia acabar de se contaminar como contaminar mais ainda os pequenos pacientes locais. Poucos dias depois, o cidadão foi transferido para a UTI e não tive mais notícias dele. Em suma, o governo estadual deixou de cuidar adequadamente de dois grandes hospitais sob sua tutela. Eu me senti um agente penitenciário, como se estivesse escoltando presos pela cidade, por duas vezes, enquanto estive naquele hospital: naquela ocasião e quando levei um paciente com hanseníase a um centro de referência em dermatologia.
Voltando ao caso do garoto, você imagine o que é o sujeito adquirir aquele maldito vírus na infância, sem ter concorrido para isto, crescer com ele e como ele vai se sentir quando souber que tem o tal vírus e as repercussões disso. A reportagem que eu apontei apresenta uma foto do garoto brincando no chão de sua casa. Embora ela não mostre o rosto do menino, acho uma falta de respeito com ele. Por isso não a publico aqui. Não sei em que pé está o caso. Não consegui encontrar notícias atualizadas. Se alguém souber como está, me avise, por favor.
Apesar de haver aumentado o esclarecimento da população sobre a AIDS e, portanto, aumentado a prevenção, os dados sobre a doença ainda preocupam (http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultnot/2009/11/24/para-unaids-dados-sobre-aids-sao-positivos-mas-ainda-preocupam.jhtm). Os casos de infecção pelo vírus e da doença propriamente dita continuam aumentando, embora mais lentamente. Os ambientes em que os casos crescem estão se diversificando. A infecção está agora crescendo nos seguintes setores:
  • Cidades do interior;
  • Mulheres;
  • Indivíduos heterossexuais;
  • Classes menos favorecidas;
  • Indivíduos mais velhos.
Um dos motivos para o crescimento continuo dos casos de novos de infecções são certos comportamentos irresponsáveis que se tornaram tendência, para certos grupos de indivíduos que vivem no eixo Rio – São Paulo, como o barebacking, por exemplo (http://jbonline.terra.com.br/nextra/2009/01/03/e030115675.asp). A expressão barebacking se refere aos peões que, nos rodeios, montam em cavalos ou touros que não foram selados. No contexto de saúde pública, se refere ao comportamento sexual de risco sem proteção, ou seja, sexo sem preservativo. Nas metrópoles, grupos de homossexuais do sexo masculino realizam festas particulares onde eles praticam sexo sem proteção e pelo menos um dos participantes é soropositivo. O objetivo de cada um deles é justamente contrair o HIV. Para eles, ser infectado é um troféu. São as orgias de barebacking. Deste modo, eles brincam nessa "roleta-russa", pensando da seguinte maneira: se é para passar a vida inteira com medo de experimentar plenamente os prazeres da carne e fugindo do HIV, seria melhor enfrentá-lo logo de uma vez, fazer logo amizade com ele e incorporá-lo. Assim, eles não precisariam mais fazer sexo com proteção. Eles não teriam mais medo que o vírus os matasse porque sabem que existe tratamento capaz de "domar a fera" e de mantê-los vivos por um bom tempo. Entretanto, você pode observar que eles não pensam plenamente nas conseqüências de seus atos, para si e para a sociedade. Eles parecem não saber que, quando um soropositivo faz sexo sem proteção, além de poder disseminar o vírus para outras pessoas, ele pode contrair o HIV novamente, mas de uma linhagem diferente da que já está nele, e esse "HIV calouro" pode ser resistente ao tratamento que estava em curso. Eles também parecem não saber que nem todos os soropositivos obtêm boas respostas à tradicional dobradinha Biovir + Efavirenz, e que todos os antirretrovirais apresentam tantos efeitos colaterais que muitos pacientes pensam em desistir do tratamento. Se os praticantes do barebacking acham que vale a pena pagar esse preço para realizar suas fantasias, que se há de fazer??? Por falar em preço, eles parecem não saber que o tratamento é integralmente bancado pelo governo federal. Ou seja, muito dinheiro público em jogo, que, graças a eles, está sendo cada vez mais empregado no tratamento de novas infecções retrovirais, quando poderia também ser empregado em outras coisas essenciais, como dengue e câncer. Considerando que, a maioria dos barebackers de carteirinha, que participam das bare parties, tem bom nível sócio-econômico e que eles contraíram intencionalmente o vírus, cientes das conseqüências e do ônus gerado para o governo, então eles deveriam custear seus tratamentos. O problema é que talvez eles entrassem com ações judiciais para serem tratados de graça, sob a alegação de que nossa constituição diz que "saúde é um direito de todos e dever do Estado" e que "O Sistema Único de Saúde é universal (para todos os brasileiros), igualitário (todos tratados com igualdade) e equitativo (um pouco mais de atenção a quem mais precisa)". Essas palavras são muito fortes. Com certeza eles ganhariam.
Por meio da Nota Técnica 350/2009 (http://www.aids.gov.br/data/documents/storedDocuments/%7BB8EF5DAF-23AE-4891-AD36-1903553A3174%7D/%7B4761D188-5ED6-4184-9F11-857FA3890232%7D/notatecnica350.pdf), o Ministério da Saúde se posiciona contra a criminalização da transmissão sexual do HIV. O fato é que alguma providência tem que ser tomada para coibir essa disseminação abusiva e irresponsável, que gera danos à saúde pública. Existe algum meio legal de proibir essas festas com orgias??? O nosso código penal cita apenas que a transmissão sexual e intencional de qualquer doença sem o consentimento ou o conhecimento de quem foi infectado pode ser encarada como crime, mas não diz nada sobre casos assim. Vou me informar melhor sobre isso.
Apesar dos avanços na redução da transmissão vertical do HIV, que é a infecção do bebê, durante a gravidez, como eu mencionei em http://conscienciaacademica.blogspot.com/2008/03/mar-adentro.html, ainda há muitos casos, devido à falta de recursos para diagnóstico, profilaxia e tratamento precoces, em certas regiões do país, como se pode ver em http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=transmissao-hiv-mae-filho-alta-falta-teste-rapido&id=4554&nl=sit.
Segundo a notícia em http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/11/30/oms+recomenda+fim+do+uso+de+estavudina+contra+a+aids+9187568.html, a Organização Mundial de Saúde preconizou algumas mudanças na terapia antirretroviral, entre elas, a abolição da estavudina e o início mais precoce do tratamento, quando a taxa de CD4 cair para 350 ou menos, mesmo com ausência de sintomas.
Aproveitando o mote da AIDS, no último dia 24, fez dezoito anos que Fred Mercury, vocalista da banda inglesa Queen, eternizou-se (http://pt.wikipedia.org/wiki/Freddie_Mercury), por culpa da – sempre ela – a AIDS. Por isso, finalizarei esta postagem, homenageando, além do cantor, o meu amigo Herbert, que está aniversariando hoje, é membro ativo e importante da IFLMS, uma das entidades que representam os estudantes de medicina do Brasil, e empreendedor de campanhas de conscientização da comunidade sobralense sobre a prevenção contra a AIDS. Antes, sugiro que reveja outras postagens relacionadas ao tema em http://conscienciaacademica.blogspot.com/2008/12/edio-de-01122008.html e http://conscienciaacademica.blogspot.com/2009/04/52-edicao-de-2009.html. Saiba mais coisas que você deve saber sobre AIDS em http://www.aids.gov.br/ e http://www.vivacazuza.org.br/index.php.
Já viu tudo??? Viu não. Agora, relembrando a partida de Fred Mercury e celebrando a primavera do companheiro Herbert, vamos ver o videoclipe de "Under pressure", do grupo Queen, com a participação de David Bowie. Escolhi esta música porque eu, o Herbert e nossos outros companheiros de faculdade, especialmente no internato, vivemos sob pressão. Na verdade, todo mundo vive sob pressão, ainda mais agora, nestes tempos apocalípticos tão bem retratados no vídeo a seguir e discutidos na postagem anterior (http://conscienciaacademica.blogspot.com/2009/11/calamidade-3.html).

Um comentário:

Ynot Nosirrah disse...

Um indivíduo casado que mantém relações sexuais exclusivamente com o (a) conjuguê e que não faz uso de preservativo pode ser considerado barebacker??? Ou seja, é uma relação de risco??? Não vejo sentido em aconselhar pessoas casadas e fiéis a usarem preservativos, porque, se elas se casaram, é porque teoricamente depositam confiança mútua um no outro, acreditam que podem se entregar de corpo e alma um ao outro e pretendem ter filhos. O preservativo inviabiliza tudo isso e tira o sentido do matrimônio. Por isso a Igreja Católica condena o preservativo, por ele ser uma barreira na relação plena entre marido e mulher, por ser um estímulo a libertinagem e, portanto, não seria um meio confiável de impedir a propagação do vírus.