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domingo, 30 de março de 2008

Do Ensino Médio ao Ensino Médico.

Já parou para imaginar porque existem tantas faculdades de medicina no Brasil? Será por causa da demanda? Pode ser, mas essa demanda está muito mal distribuída. Ainda faltam médicos em muitos lugares do país e tem gente que acha que a solução é aumentar o número de faculdades. Até porque ainda há muita gente querendo cursar medicina. Por isso que não faltam clientes para as faculdades particulares. E por que tantos adolescentes, ao saírem do colégio, querem estudar medicina? Tudo bem que a medicina continua sendo uma carreira nobre, promissora e glamourosa, mas eles ainda não sabem que a diferença entre o Ensino Médio e o Ensino Médico vai além de uma letra a mais. Ainda é possível desfrutar de algum status na profissão, desde que trabalhe bem, sabendo onde está pisando. A culpa disso, ao meu ver, é dos grandes colégios particulares, que, ficam se degladiando nos vestibulares por fama, e fazem a gente sair deles com a sensação de que só vai vencer na vida se for médico, advogado ou dentista.
Não sou radicalmente contra a abertura de novos cursos de medicina ou aumento de vagas nos cursos já existentes, desde que sejam em universidades públicas e, de preferência, no interior. Nas universidades públicas, porque aumentam as chances de qualquer pessoa ingressar, embora seja mais difícil passar no vestibular. No interior, porque as capitais já estão praticamente saturadas de médicos e de acadêmicos. Além disso, a abertura de faculdades de medicina no interior abre a possibilidade de mais médicos irem trabalhar lá, porque os médicos do interior podem ter acesso facilitado à educação continuada, tão importante para nossa atualização, por meio de cursos de pós-graduação, congressos e simpósios, e eles ainda podem ganhar uma grana extra como professores dessas faculdades.
A queixa daquele médico potiguar que escreveu uma carta publicada em vários jornais do país e eu publiquei numa postagem aqui procede, porque há mesmo uma certa desvalorização do trabalho do médico, que, assim como qualquer proletário, não recebe integralmente o valor de seu serviço, de acordo com a velha teoria da mais-valia.
O quadro de terror desenhado pelas entidades médicas, com medo do aumento do número de médicos, ainda se restringe às capitais, principalmente no Sudeste. Apesar disso, não se podem criar faculdades de medicina ao acaso em cidades pequenas, nem enviar médicos prá lá ao acaso. Depende da cidade e dos serviços de saúde oferecidos. Sobral, por exemplo, só agüenta os alunos da faculdade atual, e olhe lá. Existe a ameaça de abertura de uma faculdade particular aqui. Ainda que o tão prometido Hospital Regional Geral da Zona Norte saía logo do papel, acho que não haverá lugar suficiente para os alunos das duas instituições. Se querem abrir uma faculdade de medicina, que seja em uma cidade que ainda não possui uma e que tenha o mínimo de estrutura suficiente para albergá-la.
Do que adiantaria aumentar o número de médicos se não aumentar o número de vagas nos programas de residência médica, que é o que todo mundo quer quando se forma???? Se for assim, eles não terão direito à educação continuada.
Em suma, o problema dos médicos brasileiros não é o excesso de médicos. É o excesso de médicos em alguns lugares e a falta deles em outros. Tentar desagregá-los dos lugares onde estão sobrando não será fácil. Muitos ficam por lá porque acham que profissionalmente ainda vale a pena ou por motivos pessoais (família, vida noturna, etc). A meu ver, a "válvula de escape" será mesmo o interior, onde as oportunidades de empregos são maiores, para qualquer profissão, e onde há mais qualidade de vida. O problema é o sujeito se desapegar do conforto da cidade grande e se dispôr a trabalhar num lugar onde ele talvez seja bem remunerado, mas as condições de trabalho não sejam tão boas. Em questão de conforto, não tenho muita frescura e conheço muitas cidades do interior onde tenho acesso às mesmas coisas que teria na capital. Qualidade de vida nem se fala. Sobral pode não ser mais um paraíso, mas pelo menos não se compara com Fortaleza, no tocante à insegurança.
Mas atenção: dependendo da sua especialidade, escolha bem o lugar onde vai trabalhar, porque existem cidades do interior saturadas de especialistas e capitais carentes deles.
Em tempo: o MEDGRUPO sinalizou a possibilidade de abrir uma sucursal do MEDCURSO em Sobral, com aulas por videoconferencias. Eles estão procurando saber quem são os interessados, entre alunos da faculdade e médicos da região. Antes tarde que nunca.
Você ainda acha que estou mentindo sobre a questão do mercado de trabalho nas capitais? Então acesse:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/publifolha/ult10037u351860.shtml.

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