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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Trote


FALTAM 280 DIAS
Leia a seguir texto que recebi pela Internet e que apresenta uma descrição caricata da trajetória de acadêmicos de medicina. Acredito que tenha certo fundamento, pois passei por essas fases.

Como reconhecer calouros

É possível reconhecer os calouros de longe. São pessoas irritantemente felizes e saltitantes, que têm fisionomia serena e jovial. Caminham pelo campus em grandes grupos, sempre uniformizados com a mala novinha em folha com o nome do curso, bem como vestem a camiseta promocional de 5ª categoria vendida pelos veteranos (muito tosca, no meu ano, por exemplo, foi uma camiseta preta com retângulo branco dentro do qual estava escrito MEDICINA em Times New Roman). Aliás, se você rabiscar EuU AmUuU MeDiXxXiNAa! (em miguxês mesmo!) numa folha de papel sulfite e vender pros calouros por R$20, eles compram. Ainda dão muita risada, vivem em barzinho tomando cerveja e comemorando o fato de fazerem Medicina, inundam os cursos de ECG e de Emergências, vão a congressos mas não sabem bulhufas de Clínica Médica, alugam-se a ler NEJM e outros periódicos clínicos. São humanizados e idolatram Patch Adams. Levam The Cell e Lehninger pra faculdade bem como xerocam tuuuuudo, o possível e o impossível. À medida que o tempo passa, porém, substituem os livros-texto pelos xeroxes de caderno dos nerds da frente... Os grandes grupos também diminuem, até que se atinja a conformação clássica da sala de aula: nerds da frente; comuns do meião; festeiros do fundão; fúteis ao lado dos comuns; geeks, fóbicos sociais e turistas esparsos ao fundo (do lado oposto ao dos festeiros, é claro!). Ocorrem cismas, até que as panelinhas estejam em pé de guerra. O sorrisinho some e dá lugar à fisionomia de cansaço e desalento. A cerveja do happy-hour é substituída por doses elevadas de Fluoxetina/Venlafaxina/Citalopram. Ah, aqueles que continuaram na cerveja viraram alcoólatras... Neste ínterim, um estudante comete suicídio (fora outros quatro que tiveram tentativas frustradas), uma garota engravida, um revela que é gay, um assume a cruz de "fdp oficial" e um decide que vai colocar o diploma na gaveta e abrir um restaurante. Ao final, na formatura, todos se abraçam calorosamente, choram e dizem que sentirão saudades dos tempos da faculdade. (Vai entender...)


Vejo como conveniente publicar esta postagem neste momento, enquanto se inicia mais um semestre letivo em muitas universidades federais, inclusive na minha, mas, para mim, o semestre e o ano começaram bem antes e só Deus sabe quando acabam, se é que acabam.
Neste momento, muitos jovens felizes pelas suas novas conquistas de vida estão chegando às universidades. Serão eles bem-recebidos???
Aproveito a ocasião para chamar a atenção para uma tradição fútil arraigada entre acadêmicos de diversas instituições de ensino superior: o trote violento e degradante. É bom que se ressalte isso, porque nem todo trote é violento e degradante. O trote pode ser bem aceito e tolerado como uma maneira educativa e respeitosa de introduzir os calouros na comunidade acadêmica. Existem os chamados "trotes solidários", nos quais os calouros são convidados a realizar pequenas ações sociais, como doação de sangue e arrecadação de alimentos e de agasalhos para pessoas carentes, por exemplo. É claro que, após esses atos de solidariedade, não podem faltar algumas festinhas, dentro dos limites da moral e do bom-senso, pois geralmente os calouros esperam encontrar algum tipo de animação, uma recepção calorosa, assim como os turistas que desembarcam em algumas ilhas do Pacífico são recebidos por lindas bailarinas que lhes presenteiam com colares de flores dançando "ula-ula" (http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u12472.shtml).
Entretanto, ainda não é sempre uma acolhida civilizada assim que se vê. Muito pelo contrário, ainda se vê muito daquela postura preconceituosa, prepotente, e revanchista de quem organiza a aplicação de trotes ofensivos.



Eu explico. No meio acadêmico, existe uma espécie de hierarquização virtual entre os alunos, como se estivessem em uma academia militar, que se baseia, não apenas no período em que o aluno se encontra, mas, também, no fato de alguns terem outras vantagens em relação aos colegas, como ter uma bolsa de estudos, ser monitor de alguma disciplina, fazer parte de algum projeto de pesquisa ou de extensão, ou ser membro de alguma liga, do centro acadêmico, da associação atlética ou de qualquer outra agremiação dentro do curso. Como não poderia deixar de ser, a classe social do indivíduo também influi. Na base desta "hierarquia" está o calouro, vulgo "bixo", que chega à faculdade como se estivesse chegando ao mundo: moralmente nu. Mesmo que seja de uma classe social favorecida, ele chega despido de qualquer coisa que lhe propicie ao menos ser "alguém" no curso e obter algum tipo de respeito. Ele ainda não pode ter alguns dos fatores que eu mencionei para se destacar, como ter bolsa, monitoria, liga, pesquisa, etc. Ele é apenas mais um aluno do primeiro semestre, e nada mais. Quando eu estava no primeiro semestre de medicina, os representantes de minha turma reclamaram disso, em uma reunião do colegiado. Um dos professores, com sua "língua de serpente", retrucou: "Vocês tem mais é que crescer e aparecer". Existem pessoas que levam tão a sério esta "hierarquia" que se torna obsessiva a idéia preconceituosa de que "bixo não presta, bixo não é gente, bixo não tem direito a nada, a não ser de apanhar" e por aí vai. Só falta quererem levar os "bixos" para o hospital e pô-los para fazer os serviços dos internos, categoria essa que também é estigmatizada. Falarei sobre isso adiante. Como eu dizia, a idéia de que calouro é a pior escória da humanidade já está tão incrustada nas mentes de calouros e de veteranos que gera hostilidades entre ambos, parecidas com as hostilidades existentes entre judeus e palestinos, e gera também auto-depreciação dos próprios calouros. Quando esses calouros tornam-se veteranos, eles vão fazer com os novos calouros as mesmas sacanagens das quais foram vítimas. O trote, então, se torna uma maneira de transmitir a tradição para as gerações seguintes, extravasar o ódio e subjugar o adversário, recebendo-o em sua casa, com um recado nas entrelinhas: "Seja bem-vindo, mas fique sabendo que quem manda aqui sou eu". Em suma, infelizmente, ser calouro ou "bixo" ainda é uma condição constrangedora, é uma situação aviltante. A vergonha não dura apenas no momento do trote ou nas primeiras semanas de aula. Dura pelo menos um semestre ou até mesmo o ano inteiro, enquanto não chega a próxima turma. Nada pior do que ser sempre apontado no campus, sempre referido como o "bixo", sempre ridicularizado, de sempre ter que disfarçar com um sorriso amarelo, respondendo que está tudo bem, tudo sobre controle, ao ser interrogado sobre como estão as aulas, de sempre aceitar a idéia de que o veterano sempre tem razão em tudo e que o calouro que fica calado ainda está sempre errado. Já passei por isso três vezes. Não pretendo passar mais.



Como eu disse ainda há pouco, o calouro não é subjugado apenas no trote. Ele é subjugado continua e psicologicamente durante todo o tempo em que for calouro. Na verdade, às vezes, o universitário é subjugado durante o curso inteiro, dependendo da carreira que seguir. Seja indiretamente, pelo meio hostil e competitivo em que vive, seja diretamente, por alguém que se considera melhor e superior a ele. Neste último caso, podemos caracterizar o bullying, termo inglês que significa algo como "assédio por meio da valentia". Trata-se de uma forma de depreciação e de submissão continuas de semelhantes. O termo baseia-se no comportamento típico, retratado em filmes e em desenhos animados, do garotão valentão da escola, que humilha os colegas que ele considera mais fracos e inferiores. Isto também acontece no Brasil. Pelo menos em Pernambuco, estão tentando acabar com isso, por força de lei (http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL1366325-16022,00-JOGO+ELETRONICO+ESTIMULA+A+VIOLENCIA+ENTRE+JOVENS.html). No entanto, não acredito que apenas fazer leis resolva o problema. É preciso educar essas crianças desde cedo para que saibam sempre respeitar seus semelhantes, em qualquer fase da vida, e não cheguem às universidades achando que têm o direito de zombar de outras pessoas e de calcá-las sob seus pés. Saiba mais sobre o bullying em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bullying;
http://www.bullying.com.br/;
http://blogs.opovo.com.br/educacao/pesquisadora-aponta-a-prevencao-contra-bullying/;
http://www.artigonal.com/ensino-superior-artigos/fenomeno-bullying-na-universidade-688751.html;
http://www.unimais.com.br/blog/default2.asp?s=artigos2.asp&id=7&titulo=Bullying%20nas%20Universidades.



Em minha opinião, o bullying na universidade é a extensão do trote. Ele pode envolver alunos de qualquer semestre. Aqueles alunos que conseguem alguma posição de destaque no curso podem aproveitar-se da situação para menosprezar e subjugar seus colegas, principalmente os menos adiantados, mesmo que sejam veteranos. Um exemplo disso são os monitores. Alguns deles aproveitam-se da posição privilegiada, se esquecem de que também são alunos e começam a agir como professores, de quem às vezes recebem tanta "carta-branca" que têm liberdade para passar trabalhos, elaborar, fiscalizar e corrigir provas, sem supervisão alguma. Em outras palavras, esses monitores praticamente têm o futuro de seus colegas menos experientes nas mãos e regozijam-se disso. Para mim, isto é mais que oportunismo. Isto é bullying. Eu vi exemplos disso, nos três cursos pelos quais eu passei, mas, o que mais me chamou a atenção foi um caso que presenciei na veterinária. Lembrei-me desse caso, quando fiz um comentário sobre o filme "Prenda-me se for capaz", estrelado por Leonardo di Caprio, em uma de minhas postagens (http://conscienciaacademica.blogspot.com/2008/11/edio-de-29112008.html#comments). O filme apresenta a história real de um adolescente que fugiu de casa, aos 16 anos, após o divórcio dos pais, na década de 60, e se tornou um estelionatário, fazendo que todos pensassem que ele era dez anos mais velho, e se passando por todo tipo de profissional, enquanto emitia cheques sem fundo. Leia meu comentário, no qual verá, além do caso da veterinária, verá, ao final, o melhor trote que já presenciei:

Mais coisas interessantes das quais me toquei no filme "Prenda-me se for capaz".
Houve uma cena em que tocaram uma música brasileira cantada em inglês. Acho que foi "Garota de Ipanema". Foi quando o protagonista estava escondido em um hotel de Hollywood e chegaram os federais para pegá-lo, mas ele consegue passar a perna em Tom Hanks.
Acho que os franceses devem ter odiado este filme. As relações entre França e EUA já foram boas. Os primeiros ajudaram no processo de independência dos segundos. Mas acho que agora eles não se bicam, principalmente após a invasão do Iraque, quando a França foi radicalmente contra. Os franceses não gostam muito de conversar em inglês. Quando o protagonista Frank foi preso na França, o agente Carl fez referência indireta aos franceses como sendo primitivos, brutos e violadores de direitos humanos. Enfim, comparou a França com um país como o Brasil.
Houve uma cena em que Frank se fez passar por professor de francês, quando ainda era aluno secundarista. Isto me fez lembrar que quando eu cursava veterinária, e passei por uma disciplina chata, havia um monitor metido a besta, que fazia muito isto, com as bençãos do professor. O cara se achava o tal. Muitas vezes se esquecia que ainda era só um estudante universitário recebendo bolsa prá ser capacho de alguém. Ele mesmo disse uma vez que a função do monitor era ser olheiro do professor, principalmente o daquela disciplina. Por quê? O professor-chefe daquela cátedra (havia outro professor, que não se dava muito bem com ele), era um dos fundadores daquela faculdade, era um dos docentes mais antigos em serviço e em idade da universidade e era "peixe" do reitor. Portanto, aquele rapaz se considerava feito na vida e com as costas largas. E muita gente beijava os pés dele, principalmente outros monitores de outras disciplinas e até de outros cursos. Então, se achava no direito de se intrometer no trabalho deles. O próprio contou que uma vez, pais de uma acadêmica, não me recordo de qual curso, o procuraram achando que ele fosse professor, e ele assim se fez passar. Reclamaram do comportamento da filha e ele sugeriu a "Lei Chico de Brito". Acho que isso queria dizer que ela devia entrar na porrada. Certa vez o sacana veio criar caso comigo porque eu estava fazendo o trabalho sacal de montar uma lâmina microscópica com a maior delicadeza possível e ele achava que eu estava usando óleo demais. Devia tê-lo feito engolir uma lâmina daquelas cheia de óleo.(...)

(...)Ainda sobre o filme, lembro-me que quando fui cursar farmácia, no primeiro dia de aula apareceu um cidadão se passando por professor de química geral. E todo mundo acreditou, porque o cara parecia mesmo, estava caracterizado como tal e era professor de alguns cursos pré-vestibulares. E o cara começou a dar aula, expondo a grade curricular da disciplina e fazendo medo, até que apareceu uma criatura do Centro Acadêmico e revelou que era trote. Nunca vi trote melhor na vida. rsrsrsrs

Nossa cultura universitária lembra um pouco a cultura das universidades norte-americanas, nas quais os alunos se matam para entrar em "irmandades". Não sei se eles são obrigados a fazer parte delas e se isso acrescenta alguma coisa no currículo, mas o fato é que, entrar naqueles "clubinhos" parece ser a maior realização de vida deles, que se submetem a todo tipo de ritual humilhante e parecido com o trote, para fazer parte do grupo. Entre as vantagens que eles enxergam nisso tudo, talvez estejam a de poder morar no alojamento da irmandade no campus e de poder participar de festas. Em nosso meio, o que temos de parecido com as irmandades são as ligas acadêmicas. Pelo menos na medicina é assim. Pelo menos a gente sabe que as ligas trazem vantagens profissionais reais, como o treinamento de habilidades do aluno e o estudo aprofundado de determinada disciplina médica. Há quem veja as ligas como formas estúpidas de especialização precoce. Um professor nosso disse que muitos alunos acabam se ligando a todos os tipos de ligas da faculdade até que acabam desligados das responsabilidades. Ele tinha razão. Muitos companheiros, na ânsia de encherem seus currículos, se filiam ao máximo de ligas nas quais conseguem entrar, gastam todo o tempo livre em função delas e acabam se esquecendo de estudar para as provas e de viver.
Voltando ao tema principal da postagem, na outra ponta do curso, temos um exemplo de bullying, que é o que pode acontecer no internato. Durante o estágio de vivência profissional teoricamente supervisionado, que pode durar de dezoito a vinte e quatro meses, o acadêmico de medicina, que nesta fase passa a ser chamado de interno (ou de doutorando, em Pernambuco), dependendo do hospital ou do setor em que esteja estagiando, pode se tornar um "saco de pancadas". O internato é importante para aprender na prática o exercício da profissão e tentar ganhar alguma segurança e alguma autoconfiança. No entanto, há coisas que o interno aprende, das quais ele, quando for médico, não vai precisar saber, porque sempre haverá um residente ou um interno para fazê-las em seu lugar. Um contrasenso, não é? Há serviços onde a burocracia para qualquer procedimento é máxima e que se escoram no interno ao máximo. Serviços onde o interno é um mero tocador, um office-boy, um "tapa-buracos", um peão, enfim, o interno é o gari da medicina. É ele que geralmente fica encarregado de limpar alguma sujeira deixada pelos superiores e de consertar os erros deles. Quando tudo dá errado, há um ditado que diz que "a culpa é sempre do interno". Trabalho máximo, lucro máximo para terceiros e aprendizado mínimo. Em hospitais desenvolvidos, há profissionais capacitados para realizar o aconselhamento pré-teste e solicitar a sorologia para HIV, quando necessário. Geralmente esses profissionais são psicólogos ou assistentes sociais. No hospital em que estagio, por que eles pagariam um psicólogo se existe o interno, que é de graça??? Na sala de parto do meu hospital, por que um obstetra se preocuparia em comprar um sonar (aparelho usado para escutar batimentos cardíacos fetais) se ele nunca vai usar??? Para fazer essa ausculta, existem o interno e o pinard (uma espécie de cone). Com esses instrumentos, o custo é baixo. Para que o obstetra vai se preocupar com um parto, se existe um interno que, se necessário, faz um pequeno corte na vagina da gestante, a fim de abrí-la mais e facilitar a saída do bebê (episiotomia), talvez retirar o bebê sozinho e depois costurar o corte (episiorrafia)??? O interno é como uma cena do filme "Tropa de Elite", na qual o aspirante Neto é praticamente jogado pelo capitão Fábio para trabalhar na oficina mecânica do batalhão. Um dos mecânicos reclama ao capitão sobre a falta de peças para as viaturas, e ele responde: "Olha, essa p... não é mais minha. Agora essa p... é do aspira". Ou seja, o interno é um aspira. O interno é um robô. O interno tem mil e uma utilidades. E ainda agüenta a opressão e a perseguição por parte de residentes e de staffs (preceptores).
Bom, vou parar com esse desabafo por aqui. Por enquanto. O que eu quis dizer é que o interno de medicina pode ser um dos elementos mais submetidos ao bullying nas universidades.
Continua...

Um comentário:

mayara ribeiro disse...

Eu to qerendo muito entrar na faculdade e a faculdade q pretendo entrar é longe d casa e fico asustada com esses depoimentos q vejo e ouço de estudantes universitarios sobre trostes pois sou muito explosiva e n sei qal seria minha reação diante d uma situação dessa.