BlogBlogs.Com.Br
Seja bem-vindo ao blog Consciência Acadêmica.

Impressões pessoais sobre notícias ou sobre episódios cotidianos, além de informações de utilidade pública.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Medicina versus Direito

Agora é hora de começar a falar de coisas mais sérias. Agora vou começar a escrever de verdade.

Um dia desses, ao acessar uma comunidade do Orkut, deparei-me com uma discussão curiosa. Se quiser acompanhá-la, abra a página http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=49019&tid=2561580450306934701&kw=direito. Nesta discussão tenta-se esclarecer qual das duas áreas é mais promissora.

Se a carreira é promissora ou não, isto depende mais da sorte do cidadão. Ambas as carreiras estão cheias de espinhos. De acordo com a maneira que ele vai exercer a profissão, precisa se esforçar muito para sobressair e para ter um bom padrão de vida. No direito, por exemplo, o advogado que trabalha por conta própria pode encontrar grandes dificuldades para sobreviver, a não ser que ele sempre pegue casos que lhe rendam boas comissões. Quando ele não consegue emprego em um escritório de advocacia, a melhor saída é prestar concursos públicos para tribunais, procuradorias e ministérios públicos. Quanto ao médico, o sucesso dele depende de sua especialidade, do seu talento e do seu local de trabalho. Os médicos do serviço público deixaram de ser tão bem pagos. Mesmo assim, para quem quer faturar bastante dinheiro à curto prazo, a melhor opção tem sido o Programa de Saúde da Família (PSF). O problema é que as unidades do PSF que pagam melhor estão mais distantes das grandes cidades. Além do isolamento pela dificuldade de manter-se atualizado da maneira que a profissão exige, o médico que trabalha naqueles lugares geralmente enfrenta a falta de infra-estrutura, de equipamentos e de medicamentos.

Trocando em miúdos, não digo isso porque sou da área médica, mas tenho a impressão de que é menos difícil sobreviver com um diploma de medicina do que com um diploma de direito. Todo bacharel em medicina ainda tem condições de trabalhar como médico e viver dignamente. Quem acha que todo bacharel em direito está com a vida ganha deve estar generalizando o exemplo dos felizardos que conseguiram um cargo no Poder Judiciário. Esses felizardos são uma exceção. Já vi casos de bacharéis em direito que se viram obrigados a prestar concurso para a Polícia Civil. Nem todo bacharel em direito consegue viver como advogado, mas quase todo bacharel em medicina ainda consegue viver como médico. Digitei a palavra "ainda" em negrito porque, devido ao incremento do número de cursos de medicina e de direito, vão se formar mais profissionais em ambas as áreas nos próximos anos. A concorrência no mercado de trabalho tende a aumentar e, para médicos e advogados, a vida tende a ficar mais difícil. Vou voltar a comentar sobre isso em outra ocasião.

Até agora, comentei o valor das áreas médica e jurídica para o indivíduo. Sem querer ofender os profissionais do direito, mas eu acho que, para a coletividade, a medicina é mais bem-sucedida. Em quem você confia mais: no SUS ou no Poder Judiciário? Qual deles você acessa com mais facilidade? Qual deles trabalha mais por você?

Concordo que, em alguns hospitais públicos, os pacientes são abandonados em macas nos corredores ou morrem na fila de espera por uma consulta. Isto pode acontecer mais por falta de infra-estrutura e de material do que por falta de mão-de-obra. Por outro lado, a expansão da atenção primária à saúde ampliou o acesso da população aos serviços de saúde, principalmente com a criação do Programa de Saúde da Família, o que de certa forma deve ter diminuído um pouco a sobrecarga da atenção terciária. Medidas como esta ajudaram a melhorar a saúde no Brasil nas últimas duas décadas. A taxa de mortalidade infantil, por exemplo, diminuiu. A maioria dos transplantes de órgãos é feita pelo SUS.

E o direito, que resultados positivos ele tem para apresentar? Lamentavelmente, não acho que o Poder Judiciário e o Ministério Público estejam cumprindo bem seus deveres, porque, se estivesses, não haveria tanto crime organizado, tanta corrupção e tanta impunidade, coisas que só vêm piorando. Alguns dos próprios membros não dão bons exemplos: juiz desviando verbas da construção de um tribunal, juízes vendendo sentenças, juiz matando vigilante de supermercado, promotor acusado de matar a esposa, e só Deus sabe que mais eles aprontam.

Quando a Justiça liberta um criminoso bem antes do tempo previsto, os juízes se desculpam dizendo que foi a lei que permitiu que isso acontecesse. Mas a lei não é tão frouxa assim. Quando eles querem, eles fazem um serviço que preste. Vou dar um exemplo: lembra-se que, há alguns anos, um delinqüente menor de idade conhecido como 'Champinha' matou um casal de namorados no interior paulista? A repercussão foi tão grande que arrumaram uma maneira legal de mantê-lo preso até hoje, mesmo ele já sendo maior de 21 anos, porque descobriram por acaso que ele não tem condições de voltar ao convívio social, assim como tantos elementos que recebem indulto de carnaval, de páscoa, de dia das mães, de dia dos namorados, de São João, de inverno, de dia dos pais, de independência, de primavera, de dia das crianças, de finados, de proclamação da república, de natal, de ano novo, de verão, etc. Outro exemplo: o juiz que matou um vigilante em um supermercado em Sobral, por incrível que pareça, ainda está preso, desde que se entregou, na época do crime. Para os padrões do Brasil, acho que justiça foi feita. Era de se esperar que ele tivesse as "costas quentes" e que já estivesse solto, mas o julgamento foi rápido e ele continua recebendo seu salário de juiz em sua cela especial, mas paga pensão ao filho da vítima.

Você há de concordar comigo que, em se tratando de saúde, o Brasil está melhor que em segurança pública e em justiça.

Sem querer ser arrogante, eu tenho orgulho de estar prestes a integrar a classe médica que, juntamente com outros profissionais da saúde, trabalha muito e ganha relativamente pouco, mas é eficiente e tem a convicção de estar cumprindo seu dever na construção de um Brasil melhor.


 


 


 

 

Nenhum comentário: