Como você já sabe, o presidente cubano Fidel Castro renunciou anteontem ao cargo, depois de quase cinqüenta anos de mandato.
Em princípio, achei estranha esta renúncia repentina, pois o poder é gostoso e pegajoso. Ninguém se desapega dele por qualquer motivo. Se bem que, neste caso, ele não se livrou totalmente do poder. Ele apenas o transferiu ao seu irmão. Mesmo assim, se ele ousou fazer isto, é porque o negócio é sério. Ele deve ter sentido que não dava mais para continuar, que não tinha mais disposição e que já fez tudo que podia fazer pelo seu país. Se fosse só a pressão dos EUA, ele já teria caído há mais tempo.
Este fato não me deixa feliz nem triste. Ainda não sei qual a repercussão disto em nossas vidas. Só sei que, apesar de eu ter certa simpatia pelo socialismo, eu não desejaria que alguém como ele governasse o Brasil, pois nosso país é muito maior e mais complexo que Cuba.
Quando ele começou sua revolução, ele podia ser considerado herói, porque livrou o povo cubano de um regime opressivo que existia até então. Hoje, se ele não é um vilão, tem sido pelo menos omisso e prepotente, pois deixa muita gente passando fome, achando que os alimentos que elas recebem do governo são suficientes, e não costuma aceitar pontos de vista contrários ao seu.
Se, por um lado, o regime cubano peca por ser, da mesma forma que muitos regimes totalitários, devotado à figura de uma pessoa e sua ideologia, impedindo o progresso do país, por outro lado, ele apresenta alguns avanços invejáveis por muitos países capitalistas em desenvolvimento, na educação, no esporte e na saúde. Em educação, não sei o que dizer. Só porque é de graça prá todo mundo, não quer dizer que funcione tão bem assim. Existe algum graduado em universidade cubana fazendo pós-graduação fora de Cuba? No esporte, os cubanos são bem sucedidos em diversas modalidades, como o vôlei. Não sei se eles têm futebol. Quanto à saúde, Cuba é referência em algumas especialidades médicas, como a medicina de família e comunidade e a oftalmologia, e em educação médica, por conta da ELAM (Escola Latino-Americana de Medicina), que abriu uma sucursal na Venezuela. Esta faculdade recebe muitos brasileiros que acabam voltando para trabalhar aqui, e vou comentar sobre isto em outra ocasião. Mas a saúde cubana tem seus senões. Houve um episódio da série "Dr. House", se não me engano, o último da 3ª temporada, em que o protagonista fez um breve comentário sobre a medicina cubana, mais ou menos nesses termos: "Fidel sabe formar médicos bem qualificados, mas não sabe comprar equipamentos modernos". Algum defensor do regime dele vai alegar que a culpa é do embargo imposto pelos EUA. Mas será que esse embargo é absoluto? Acho que não, pois se fosse, Cuba seria completamente isolada do resto do mundo, como o Iraque e o Afeganistão eram, há alguns anos, e nem receberia turistas. Além disso, Cuba mantém relações diplomáticas e comerciais com diversos países, inclusive o Brasil. Se não me engano, eles até importam carros franceses, embora pouca gente tenha dinheiro para adquirir. Então por que também não importariam equipamentos hospitalares?
Eles nunca teriam pensado em expurgar um "corpo estranho" chamado Base Norte-Americana de Guantánamo, onde agora são mantidos prisioneiros alguns membros do Talebã? Talvez, sim, mas com que coragem? E que armas?
O que mais chama a atenção em Cuba é o estilo de vida da população, que é relativamente rudimentar. A maioria dos carros é antiga. Há muita gente que anda em veículos de tração animal. Racionamentos de energia, comida e combustível, como se fosse uma guerra. Alguém sabe se existe celular e Internet por lá?
Será que uma possível abertura política e econômica mudaria esse quadro? Quem sairia realmente ganhando com isso?
A quem interessar, o texto completo da carta de renúncia: http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u373782.shtml
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