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sábado, 24 de maio de 2008

Pici invadido

    Abaixo, você pode ler manifestações relacionadas à ocupação do campus do Pici por indivíduos aparentemente desabrigados, porque no meio deles existe quem se aproveite da situação. De fato, a universidade não pode simplesmente abrir mão do terreno, em favor dos ocupantes, pois seria apenas mais uma favela surgindo na cidade. E sabe-se que morador de favela não é tão pobre coitado quanto parece. Há rumores de que as atividades acadêmicas no Pici estavam suspensas, devido à insegurança gerada pela invasão. Existiam queixas de que os ocupantes estavam impedindo a comunidade acadêmica de trabalhar ou estudar lá. Mas agora, parece que voltou tudo ao normal, depois que eles partiram.

Enfim, os textos abaixo, oriundos de trocas de e-mails em comunidades abertas, revelam a repercussão da invasão em outras unidades da UFC, como em Sobral.

Caros/as colegas,


 

recebi esse documento que ora encaminho a todos/as para indagar se o

subscrevem ou não, para que ao final possa ser enviado à reitoria.

De minha parte, assino, incondicionalmente. Favor direcionar sua 

autorização ou negação à Andrea da Odontologia.

Olinda.


 

José Olinda Braga

Coordenador pro-tempore do curso de Psicologia - UFC/Sobral


 


 

Olá Olinda, 


 

estamos articulando uma Nota de Repúdio à invasão do

Pici, visto este movimento ter tomado maiores proporções, inclusive e

principalmente com a repercussão política que está tendo. Os Cursos

de Economia, Engenharia Elétrica e Engenharia da Computação já

acordaram com a Nota. Segue um "prenúncio" desta nota, com as

assinaturas da Nota de Repúdio à invasão da Reitoria que enviamos.

Vejam se o Curso de Psicologia aderirá à nota, assim como os

professores subscritores.

Abraços


 

Profa. Andréa Silvia Walter de Aguiar

Universidade Federal do Ceará - Campus Sobral

Professora Adjunto I do Curso de Odontologia


 

"A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão"

(Mário Quintana)


 

Car@s Colegas,

Antes do mais, solidarizo-me com os sentimentos de inquietação e

desconforto por conta das ações do Movimento Sem-Teto no Campus do

Pici.

Aos colegas de Sobral, permitam-me, por favor, compartilhar esta

conversa com outras pessoas e grupos implicados na questão.

Aos que tomaram a iniciativa da elaboração e já assinaram a presente

"nota de repúdio", acredito que a intenção é nobre, que desejam o

retorno da rotina do Campus e que todos os que ali desenvolvem suas

atividades - alun@s, servidores e docentes - possam realizar suas

atividades profissionais esperadas. Estive pessoalmente no Campus do

Pici na 4a. feira passada, dia 30.04, e pude ouvir algumas pessoas

falando sobre seus sentimentos e desejos.

No entanto, se permitem, colegas, gostaria de expressar minha humilde,

mas sincera, opinião acerca do assunto..

Pois bem, acredito que a nós, docentes, compete um papel mais complexo

e delicado em relação aos acontecimentos, do que tomar posição em

defesa da nossa Instituição e "repudiar" a ação do Movimento Sem-Teto.

De nós - na condição de intelectuais que somos - espera-se outra

tarefa: a de analisar as questões que estão em jogo, contribuindo para

o seu esclarecimento junto à sociedade, sugerindo caminhos para a

superação do impasse e nos colocando a serviço do diálogo e do

entendimento, por mais desafiantes que sejam. Tem sido esta,

historicamente, a postura dos intelectuais respeitados deste país. É a

partir daí - e somente assim - que entendo o "apoio incondicional" aos

órgãos de direção de UFC e a quaisquer grupos dentro da Universidade

que desejem intervir na questão.

À vossa disposição para o diálogo,


 

Babi Fonteles.

(Professor Adjunto do Curso de Psicologia - Campus de Sobral)


 

Babi e colegas

A atividade intelectual jamais é cômoda e a exigência de inconformismo, que a acompanha, faz com que a sociedade reconheça os seus portadores como porta-vozes das suas mais profundas aspirações e como arautos do futuro (Milton Santos)

Considero os processos de mobilização social como uma das estratégias políticas de tensionamento dos conflitos. Quem acompanhou os artigos sobre os 40 anos do Maio de 68, escritos no caderno +Mais da Folha de São Paulo de domingo, talvez possa ter percebido a dimensão histórica de ações como as que se passam na UFC, mas que são deflagradas ao redor do mundo por movimentos semelhantes. Longe de repudiar tais ações, como professora de uma instituição pública de ensino superior, como pesquisadora da área de psicologia social e política, como militante que sou há muitos anos no campo da Psicologia e em suas interfaces teórico-práticas, analiso e compreendo que a ocupação, embora seja indesejável para todos nós que fazemos a UFC, reflete um campo de forças conflituoso e denuncia que há muito mais a ser vivido até que alcancemos de fato a utópica equidade. As análises políticas apontam para contradições e paradoxos do que se costumou chamar de "esquerda". E quando há contradições, estamos num movimento dialético. Parafraseando Nelson Rodrigues, se não há unanimidade aqui, há inteligências.

Compartilho com vocês um artigo (abaixo) do saudoso Milton Santos que expressa muito mais que minhas simples palavras.

Saudações respeitosas a tod@s

Namastê.

 
 

GMM

http://mobilis.zip.net/


 

O intelectual anônimo

Fonte: Expresso Vida © ( nº 73 - 15 de Junho de 2001 - ano 2 ) São Francisco do Sul, Sc, Brasil

A atividade intelectual jamais é cômoda e a exigência de inconformismo, que a acompanha, faz com que a sociedade reconheça os seus portadores como porta-vozes das suas mais profundas aspirações e como arautos do futuro – Por Milton Santos

Por definição, vida intelectual e recusa a assumir idéias não combinam. Esse, aliás, é um traço distintivo entre os verdadeiros intelectuais e aqueles letrados que não precisam, não podem ou não querem mostrar, à luz do dia, o que pensam.

O intelectual verdadeiro é o homem que procura, incansavelmente, a verdade, mas não apenas para festejar intimamente, dizê-la, escrevê-la e sustentá-la publicamente. É um fato conhecido que, em épocas de obscuridade, os mandões do momento o proíbam ou o inibam de fazê-lo, gerando como conseqüência a listagem daqueles que se tornam mártires do seu próprio pensamento, como Unamuno, durante a Guerra Civil Espanhola, e dos que não renunciam ao dever da verdade, ainda que deixando para pronunciá-la quando retornam os regimes de liberdade. Mas é isso mesmo o que distinguiu a universidade de outras instituições. Por isso, a atividade intelectual jamais é cômoda e a exigência de inconformismo, que a acompanha, faz com que a sociedade reconheça os seus portadores como porta-vozes das suas mais profundas aspirações e como arautos do futuro. Por isso mesmo, observadores da universidade, no passado e no presente, temem por seu destino atual, já que são raras as manifestações de protesto oriundas de suas práticas, deixando, às vezes, a impressão de que a academia pode preferir a situação de mera testemunha da história, em lugar de assumir um papel de guia em busca de melhores caminhos para a sociedade.

Quando os intelectuais renunciam a esse dever - sejam quais forem as circunstâncias -, um manto de trevas acaba por cobrir a vida social, uma vez que o debate possível torna-se, por natureza, falso.

Essa poderia também ser a definição mais desejada da vida acadêmica em todos os lugares. Mas a verdade é que a forma como, nos últimos tempos, se está organizando a convivência universitária acaba por reduzir dentro dela o número de verdadeiros intelectuais, mesmo se aumenta o de cientistas e de letrados de todo tipo. A vida universitária é cada vez mais representativa de uma busca de poder sem relação obrigatória com a procura do saber. E isso corrompe, de alto a baixo, as mais diversas funções da academia, inclusive ou a começar pela trilogia agora ambicionada pelas atividades de ensinar, pesquisar e transmitir à sociedade o trabalho intelectual.

Um primeiro resultado é, sem dúvida, o encolhimento do espaço destinado aos que desejam produzir o saber, e não é raro que esse movimento seja acompanhado por uma verdadeira hostilização, da parte dos que mandam, em relação aos que teimam em colocar em primeiro plano a busca da verdade. Constata-se, desse modo, uma separação, cada vez maior, entre estes e o conjunto de docentes viciados em poder e que a ele se agarram por longos e longos anos, formando um grupo com tendência ao isolamento e à auto-satisfação, bem mais preocupado com as perspectivas de manter esse poder do que com a construção de uma universidade realmente independente e sábia. A esses colegas preferimos chamar de buroprofessores. Na medida em que a noção de poder se arraiga como algo normal, tais comportamentos parecem banalisar-se, tomando diferentes feições no processo de reduzir as possibilidades de um trabalho independente e de convocar, até mesmo, espíritos promissores para a aceitação de um trabalho viciado, exatamente pela ingerência cada vez mais generalizada das lógicas de poder. Não sabemos em que medida será útil buscar a relação entre as ações acima enumeradas e incluí-las no conjunto das realidades que atualmente produzem o grande mal-estar ressentido nas universidades brasileiras. O certo é que esse conjunto de fatos conduz, com mais ou menos força, segundo os lugares, ao enfraquecimento do espírito acadêmico, e isso acaba por contaminar o ensino, a pesquisa, as relações entre colegas e as relações das faculdades frente à sociedade. A força autêntica da universidade vem do espírito acadêmico partilhado por professores e alunos e cuja preservação seria de esperar que as autoridades universitárias sejam capazes de conduzir. É essa fortaleza da instituição acadêmica o garante da autonomia na produção do saber, assegurada através da liberdade de cátedra e da liberdade acadêmica efetiva, conferida a cada professor, a despeito da vocação, às vezes, autoritária dos colegiados e da prática de falsificação da democracia acadêmica. A força exterior da universidade deriva de sua força interior e esta é ferida de morte sempre que a idéia e a prática do espírito acadêmico são abandonadas em favor de considerações pragmáticas. Na grande crise em que o país agora se confronta, torna-se evidente e clamorosa a ausência de uma discussão mais intensa e mais profunda, partindo da academia, em suas diversas instâncias, e que, como em outras ocasiões na vida de todos os povos, mostra o papel pioneiro da universidade na construção dos grandes debates nacionais. A apatia ainda está presente na maior parte do corpo professoral e estudantil, o que é sinal nada animador do estado de saúde cívico dessa camada social cuja primeira obrigação é constituir, como porta-voz, a vanguarda de uma atitude de inconformismo com os rumos atuais da vida pública.

Milton Santos, geógrafo, foi professor emérito da Universidade de São Paulo e autor, entre outros livros, de Por uma outra globalização (Record, 2000)

09/05/2008 22h47

Famílias deixarão até sábado o Campus do Pici

http://verdesmares.globo.com/v3/canais/noticias.asp?codigo=219446&modulo=432.

Atividades são retomadas na UFC

http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/788262.html.

Invasão deixa 14 mil sem aula

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=536050.

PGE vai responsabilizar invasores de universidade no Ceará

http://diariodonordeste.globo.com/noticia.asp?codigo=219796&modulo=966.

Mulher teria comandado ocupação do Pici

http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/790854.html.

Urbanização do Pici

http://www.opovo.com.br/opovo/paginasazuis/789869.html.

Indústria da ocupação

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=538947.


 

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