Recebi por e-mail, um dia desses. Aliás, recebo por acaso, muitas mensagens interessantes por e-mail, mas nem sempre tenho tempo de ler todas.
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From: babifonteles@gmail.com
Date: Sun, 1 Jun 2008 16:01:40 -0300
Subject: [sobral_ufc_cariri] Cotas na UFC: artigo
Car@s Colegas,
Compartilho com vocês um artigo instigante sobe o assunto cotas na UFC.
Abraços.
Opinião
artigo
Cotas na UFC
André Haguette
31/05/2008 15:39
A UFC não possui cotas ou reserva de vagas para alunos da escola pública, nem para negros e pardos. A UFC quer-se branca ou não quer ser incomodada por esse problema menor da desigualdade social. Bem que já houve uma discussão e até um grupo de estudo preparou um documento que não foi aceito pelo Conselho Universitário; deixou-se o problema (e a solução) para lá, na espera de uma lei federal que obrigue todas as universidades. A UFC lavou-se as mãos. Enquanto isso 26 universidades federais e 69 estaduais já definiram políticas de inclusão. Não é que não haja alunos provenientes de escolas públicas na UFC. Nos últimos anos em torno de 23% dos alunos que entraram na UFC estudaram em escolas públicas, média que degringolou para uns 16% no último vestibular. Mas esses alunos estão concentrados em alguns poucos cursos, enquanto outros cursos, os mais procurados, recebem poucos ou nenhum. A pergunta é: esta política do "laissez-faire" ("deixe disso", "não é comigo") é compatível com a construção de uma sociedade mais justa onde é melhor para todos vivermos?
Neste momento em que a UFC faz sua entrada no REUNI e vai viver um novo processo de escolha de seu Reitor parece adequada uma retomada da discussão do fundamento de políticas afirmativas. Hoje, aliás, novos dados podem orientar o debate. Sabe-se, por exemplo, que a ação afirmativa de pré-vestibulares populares, inclusive na UFC, teve efeitos positivos em termos de inclusão social, aprovando milhares em vestibulares e dando origem ao sistema de cotas nas universidades públicas e no programa do ProUni, nas particulares, demonstrando que a diversidade pode começar enfim a construir-se efetivamente, deixando de ser retórica que encobre a discriminação de renda e cor.
Há alguns anos, por falta de uma prática estabelecida de ações afirmativas, a discussão era meramente especulativa. Especulava-se, com bons argumentos, que os cotistas subverteriam o princípio do mérito acadêmico; reduziriam a qualidade do ensino universitário; inflamariam o racismo, produzindo ódio entre raças e classes. Hoje a discussão pode deixar de ser especulativa e apoiar-se em dados empíricos e pesquisas variadas. Tudo indica que não há nenhum estudo robusto que comprove que medidas de ação afirmativa nas universidades tenham produzido tão devastadoras conseqüências. Se há certas incompreensões, tensões e discriminações localizadas, não houve, indicam as pesquisas, rebaixamento da qualidade acadêmica e estouros raciais e de classes. Em termos de custos e benefícios, bem a nosso gosto, gestores e pesquisadores, os benefícios parecem superar em muito os custos.
As razões de tal sucesso podem ser encontradas na prudência e na variedade das políticas de ação afirmativa adotadas. Hoje dispõe-se de uma variedade complexa de medidas que podem ser adotadas de forma isolada ou acoplada, formando um todo dinâmico: cotas (para alunos do ensino público, para negros e pardos, para indígenas e deficientes físicos), bônus diversificados ou não por cursos, bolsas, acompanhamento tutorial, complementação de aprendizagem, etc.
Como se vê não se trata somente de decidir-se por uma adesão ao princípio de inclusão ou de ação afirmativa. Trata-se também de desenhar uma forma fecunda de operacionalizá-la.
A UFC (e as universidades estaduais) há de decidir se quer ser protagonista da transformação social ou se quer continuar esperando decisões que podem nunca vir a ser tomadas. A UFC há de decidir se ela quer ser autônoma ou viver a reboque das decisões dos outros.
André Haguette
Sociólogo
haguette@superig.com.br.
Infelizmente, não está explicitada de que fonte o professor de psicologia tirou este artigo.
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