BlogBlogs.Com.Br
Seja bem-vindo ao blog Consciência Acadêmica.

Impressões pessoais sobre notícias ou sobre episódios cotidianos, além de informações de utilidade pública.

domingo, 20 de julho de 2008

Artigo sobre política de cotas na UFC

    Recebi por e-mail, um dia desses. Aliás, recebo por acaso, muitas mensagens interessantes por e-mail, mas nem sempre tenho tempo de ler todas.

--Anexo de Mensagem Encaminhado--
To: babifonteles@gmail.com; denisevasconcelos19@yahoo.com.br; aluisiolima@hotmail.com; amov76@gmail.com; gislene.macedo@uol.com.br; helliadachaves@yahoo.com.br; jean_rubens@yahoo.com.br; olindabraga@oi.com.br; luaoliveira2307@yahoo.com.br; luis_achilles@hotmail.com; ritahelenagomes@yahoo.com.br; ufc_sobral@yahoogrupos.com.br; psicologia_ufc_sobral@yahoogrupos.com.br; psicologiaufcsobral2@yahoogrupos.com.br; sobral_ufc_cariri@yahoogrupos.com.br
From: babifonteles@gmail.com
Date: Sun, 1 Jun 2008 16:01:40 -0300
Subject: [sobral_ufc_cariri] Cotas na UFC: artigo

Car@s Colegas,
Compartilho com vocês um artigo instigante sobe o assunto cotas na UFC.
Abraços.

Opinião

artigo

Cotas na UFC

André Haguette

31/05/2008 15:39


A UFC não possui cotas ou reserva de vagas para alunos da escola pública, nem para negros e pardos. A UFC quer-se branca ou não quer ser incomodada por esse problema menor da desigualdade social. Bem que já houve uma discussão e até um grupo de estudo preparou um documento que não foi aceito pelo Conselho Universitário; deixou-se o problema (e a solução) para lá, na espera de uma lei federal que obrigue todas as universidades. A UFC lavou-se as mãos. Enquanto isso 26 universidades federais e 69 estaduais já definiram políticas de inclusão. Não é que não haja alunos provenientes de escolas públicas na UFC. Nos últimos anos em torno de 23% dos alunos que entraram na UFC estudaram em escolas públicas, média que degringolou para uns 16% no último vestibular. Mas esses alunos estão concentrados em alguns poucos cursos, enquanto outros cursos, os mais procurados, recebem poucos ou nenhum. A pergunta é: esta política do "laissez-faire" ("deixe disso", "não é comigo") é compatível com a construção de uma sociedade mais justa onde é melhor para todos vivermos?

Neste momento em que a UFC faz sua entrada no REUNI e vai viver um novo processo de escolha de seu Reitor parece adequada uma retomada da discussão do fundamento de políticas afirmativas. Hoje, aliás, novos dados podem orientar o debate. Sabe-se, por exemplo, que a ação afirmativa de pré-vestibulares populares, inclusive na UFC, teve efeitos positivos em termos de inclusão social, aprovando milhares em vestibulares e dando origem ao sistema de cotas nas universidades públicas e no programa do ProUni, nas particulares, demonstrando que a diversidade pode começar enfim a construir-se efetivamente, deixando de ser retórica que encobre a discriminação de renda e cor.

Há alguns anos, por falta de uma prática estabelecida de ações afirmativas, a discussão era meramente especulativa. Especulava-se, com bons argumentos, que os cotistas subverteriam o princípio do mérito acadêmico; reduziriam a qualidade do ensino universitário; inflamariam o racismo, produzindo ódio entre raças e classes. Hoje a discussão pode deixar de ser especulativa e apoiar-se em dados empíricos e pesquisas variadas. Tudo indica que não há nenhum estudo robusto que comprove que medidas de ação afirmativa nas universidades tenham produzido tão devastadoras conseqüências. Se há certas incompreensões, tensões e discriminações localizadas, não houve, indicam as pesquisas, rebaixamento da qualidade acadêmica e estouros raciais e de classes. Em termos de custos e benefícios, bem a nosso gosto, gestores e pesquisadores, os benefícios parecem superar em muito os custos.

As razões de tal sucesso podem ser encontradas na prudência e na variedade das políticas de ação afirmativa adotadas. Hoje dispõe-se de uma variedade complexa de medidas que podem ser adotadas de forma isolada ou acoplada, formando um todo dinâmico: cotas (para alunos do ensino público, para negros e pardos, para indígenas e deficientes físicos), bônus diversificados ou não por cursos, bolsas, acompanhamento tutorial, complementação de aprendizagem, etc.

Como se vê não se trata somente de decidir-se por uma adesão ao princípio de inclusão ou de ação afirmativa. Trata-se também de desenhar uma forma fecunda de operacionalizá-la.

A UFC (e as universidades estaduais) há de decidir se quer ser protagonista da transformação social ou se quer continuar esperando decisões que podem nunca vir a ser tomadas. A UFC há de decidir se ela quer ser autônoma ou viver a reboque das decisões dos outros.


André Haguette
Sociólogo
haguette@superig.com.br.

Infelizmente, não está explicitada de que fonte o professor de psicologia tirou este artigo.

Nenhum comentário: