Pobres heróis

    Como anda cada vez mais tensa a relação médico/paciente em hospitais públicos de municípios do interior. Os primeiros, em número que nunca acompanha as necessidades, reclamam de sobrecarga, de baixos salários, de infra-estrutura deficiente para o cumprimento da rotina profissional. Os segundos, inconformados com as dificuldades enfrentadas na busca por atendimento, partem para métodos nada civilizados, na linha fazer justiça com as próprias mãos. Cada um por si e o Estado por longe. Nesta quarta-feira, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) pediu às secretarias de Defesa Social e de Saúde do Estado o envio de destacamento policial para o Hospital Regional Agamenon Magalhães, em Serra Talhada (Sertão).

É que os profissionais da casa andam mortos de medo de ser alvo da fúria de familiares de pacientes, irritados com a falta de atendimento. O vice-presidente do Cremepe, André Longo, confirma que já ocorreram, inclusive, ameaças de agressão e até de morte, motivadas pela falta de profissionais. Quando há médicos para determinadas especialidades, só aparecem uma ou duas vezes por semana, havendo casos em que os plantões (até eles) ficam descobertos. Enquanto o próprio Conselho e os órgãos de saúde se articulam para tentar melhorar a oferta desses profissionais, os que carregam o piano, sob risco constante de cair em desgraça, ameaçam criar um movimento de demissão em massa. Pouco dinheiro no bolso e uma jornada de trabalho que obriga o plantonista a fazer até 120 atendimentos por turno não pode resultar mesmo em nada melhor.

Na verdade, Serra Talhada é apenas um caso a ilustrar o caos nas unidades de saúde do interior. Relatórios da Caravana Cremepe, resumos de visitas feitas a hospitais da rede em todo o estado, estão cheios de situações nas quais tanto médicos quanto pacientes aparecem como heróis - os primeiros, por insistir no ofício, diante de tantas adversidades; os segundos, pela suprema humilhação de mendigar um direito assegurado pela Constituição Federal.

Da Assessoria de Comunicação do Cremepe.
Texto publicado na coluna Diário Urbano da jornalista Luce Pereira.
Diário de Pernambuco de 08.05.2008.

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